segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A planta pelos olhos de Biscoito




Um velhinho parou com suas compras no meio da calçada. Eu me ofereci para levar, mas ele não quis. Eu podia ter me oferecido para conversar, talvez ele quisesse... Qual seria a necessidade dele naquele momento? Assim no restante da sua caminhada poderíamos falar sobre estrelas, mar, universo ou apenas: muito bonita sua camisa. Mas ele escolheu parar em frente ao bar para trocar outras palavras com outras pessoas.

Me toquei na hora: minha vó quando ia pagar conta na esquina de casa demorava umas duas horas, porque ela ia conversando com um e outro. Hoje caiu a ficha: Ninguém de vinte anos faria isso, porque todo mundo está correndo demais, ocupado com o emprego que pode não existir daqui há algum tempo ou mesmo com a noite que na verdade será dia.

Só que minha vó sabia que o importante não é a conta paga e sim o processo que a levava até lá. Ou seja: não importa como você vai trocar o óleo do seu carro, o que importa é o que você vai pensar e fazer as outras pessoas pensarem quando tiverem em contato com você. E aí vem minha hipótese: parar para florir: como uma planta, como aquele passo na festa junina. A planta chega na terra, conhece o lugar, respira e dá uma flor. E independente do terreno, ela pode fazer isso em qualquer lugar. Seja pagando conta, trocando pneu, batendo o carro: não importa o resultado “carro batido, carro arrumado” ... importa o processo : o controle dos sentimentos envolvidos, porque o resultado final sempre pode ser sempre, parar para florir.


Ontem no asilo, seu Raimundo me disse: tem quatro anos que estou aqui, esperando a morte chegar. Eu disse para ele: eu também estou. A questão do senhor ter setenta e eu vinte quatro não muda em nada essa condição.
O senhor acredita em céu? Ele disse: acredito, mas não é lugar para a gente, só para os deuses. Eu só queria estar no Maranhão. “Mas lá é muito quente seu Raimundo!”...eu disse, mas na verdade queria falar “Eu não vou estar lá, fique aqui que eu transformo esse asilo no Maranhão”.

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