
Fui a palestra do Lama hoje. Parei na entrada para ver o cartaz que estava na fachada e nesses milésimos de segundos um Palio colidiu com uma Kombi que tinha parado na faixa. Dois desconhecidos que nunca haviam se falado antes vão começar uma conversa agora, pensei. Se uma conversa é de fato, uma forma de contato, o carro batido os uniu para um diálogo que poderia muito bem começar com o costumeiro “Você está bem”.
Acidentes a parte, o Lama nos disse que a vida nos proporciona um tabuleiro e que temos que escolher a peça que seremos. A visão do tabuleiro é indissociável da visão do jogador, ou seja, a visão do externo vai depender única e exclusivamente de nossa visão interna. Se vemos um paraíso, é porque ele está primeiro em nós.
O ponto alto da palestra foi quando ele disse sobre o sofrimento. Logo, não adianta pedirmos pela compaixão, devemos ser a compaixão. Se alguém está sofrendo, não devemos ficar imóveis pedindo que a situação melhore, pois temos toda a capacidade de fazê-la melhorar. O mundo dos deuses na roda de samsara funciona assim: eles acham tudo perfeito e lindo, mas não agem para ganhar a iluminação e saírem enfim da roda da vida. E o que move a vida em si, não é a economia ou algo do tipo. É pura e simplesmente a compaixão: fomos criados em um lar que nos acolheu, nos proporcionou todas as possibilidades na medida do possível para chegarmos onde estamos e tudo isso, aconteceu porque havia compaixão. Posteriormente, os filhos ajudam seus pais, em retribuição a esse sentimento de compaixão. O que mais me anima é que estamos em terra pura e basta a semearmos, para recebê-la.
Queria muito mesmo que o diálogo da batida iniciado com “Você esta bem” estivesse arraigado dessa mais pura compaixão, afinal, é por ele que estamos nos movendo agora.